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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os objectivos pretendidos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, padronizadas, politicamente correctas, adormecidas... ou espartilhadas por fórmulas e preconceitos. Embora parte dos seus artigos se possam "condimentar" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade de expressão" com libertinagem de expressão, considerando que "a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros"(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico, dinâmico, algo corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausado, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas incursões, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell). Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de interessantes sítios a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão abt com alguma dessas correntes... mas tão só a abertura e o consequente o enriquecimento resultantes da análise aos diferentes ideais e correntes de opinião, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais, válidos e úteis, dando especial primazia aos "nossos" blogues autóctones... Uma acutilância aqui, uma ironia ali, uma dica do além... Assim se vai construindo este blogue... Ligue o som e... Boas leituras.

quarta-feira, 28 de março de 2012

O SISTEMA


O SISTEMA


A tragédia beijou a vila do Tramagal numa tarde quente e ventosa de Março.
Ao toque de biqueirada, num acto tresloucado com contornos de violência doméstica, no dia 27 do corrente ano, um esquizofrénico de trinta e quatro anos é indiciado de parricídio da mãe!
Dado o curriculum violento e anormal comportamento na via pública, este fulano que não se lhe adivinha actividade profissional, há muito que deveria estar internado num hospício ou no mínimo, ter acompanhamento médico adequado à sua saúde mental, incluindo a toma ininterrupta da imprescindível medicação que por qualquer razão não lhe era tão regular quanto a ingestão de outros psicoactivos.
Numa atitude de desresponsabilização semelhante a Pilatos, o Presidente da Junta de Freguesia declarou à comunicação social que a família do parricida nunca houvera pedido auxílio à Comissão Social da Freguesia no sentido de esta lhe prestar a necessária assistência, comparticipando por exemplo com a medicação imprescindível à estabilidade emocional do suspeito...
Fosse para a arruada eleitoral, fosse para impingir um pacote de canais digitais, fosse para estabelecer novo contrato de banda larga, fosse para liquidar as contribuições ou fosse para fazer um peditório e todos estes ilustres assenhorados ao Sistema depressa dariam com o número da porta desta família, bem a meio da Rua dos Cascalhos...
Neste sentido, apesar de na vila todos serem sabedores e comentarem o drama vivido pela família, em atitude passiva, a Comissão Social da Freguesia esperou sentada que este caso problemático lhe chegasse às mãos...
Concluímos que até aqui o Sistema não se incomodou em ir ao encontro desta gente, como se acomodou à espera que a família lhe fosse bater à porta...
Se for a actuação corrente do Banco Socialnão é difícil concluirmos que a sua área de influência se restringirá a uns quantos esclarecidos do caminho que devem rumar enquanto os isolados são pura e simplesmente excluídos e ignorados pelo Sistema do Banco Social!
Paz à sua alma.
Bancos Sociais sim, para quem neles trabalha!
Estamos cientes que um energúmeno que provoque incêndio florestal, marmanjo que cometa violação, ou delinquente que perpetre crime de sangue, naturalmente não o fará no seu perfeito juízo, daí que o estatuto de inimputabilidade se transforme numa desculpabilização esfarrapada.
Quantos mais casos esquizofrénicos estarão em ”risco” de acontecer neste Concelho de Abrantes?
É do Sistema!

sexta-feira, 23 de março de 2012

O TUBUCOSSAURO I


O TUBUCOSSAURO I
Primeiro episódio

Não fosse por lá um acontecimento extra ordinário e esta crónica não teria pernas para andar nem razão de existir...
Naquela fresca e domingueira matina em que a brisa ribeirinha de Constância augurava solarengo dia, cinco aventureiros e um cão eram despejados junto à estátua do autor d' “Os Lusíadas” que sentado no seu eterno pedestal atentava o espraiar do Zêzere no Tejo, tendo esta rapaziada por missão queimar lipidosas quilocalorias e desgastar o rasto das botas durante o seu regresso a Abrantes, se bem quando inusitadamente a caminhada terminou mal p'ra caramba!
Ora vamos debruçar-nos sobre o assunto que nos mantém reunidos frente os monitores deste espaço cibernético...
Tomando as tágides águas à direita, o percurso ia-se desenrolando na descontra, ora por estradão pavimentado a lajes de cimento, ora pelos areais do rio rechassado nos transvases  castelhanos...
Experiente aviador, Dakota decerto seria o elemento mais velho deste grupo heterogéneo, pessoa de cabelos curtos e esbranquiçados, com bastantes anos de tarimba às manches da profissão que de momento regateava tão merecida reforma...
De tez morena e encorpada meia-idade, botas e calças caqui com bolsos laterais, t-shirt preta, protegido por chapéu de aba larga e carregando uma mochila de camurça castanha, seus dentes alvos prendiam uma palhinha que bailava entre os fendidos e grossos lábios.
Marley, elemento cuja principal característica era os seus longos cabelos negros formando tentáculos que se enriçavam em tudo quanto era arbusto elevado ou arvoredo rasteiro, tendo os restantes caminheiros de reservar algum espaço no seu redor na medida em que, a cada movimento brusco da cabeça, seus dreadlok’s vergastavam as vistas dos mais próximos.
Envergando folgada camisa turca de ralo algodão branco e calças de pijama listradas a multicores verticais, Marley transportava o lanche e outros tantos apetrechos esquisitos numa sacola de serapilheira a tiracolo, caminhando sobre grosseiras sandálias de pescador que lhe concediam liberdade aos dedos dos pés.
Vem Djáh pr’á aqui, vai Djáh imediatamente para ali... 
Com estes termos Marley chamava pelo seu trepidante cão, um negro labrador de pelo curto e luzidio...
Psiché, era a inseparável companheira de Marley, rapariga de olhos intensamente verdes e longos cabelos espigando madeixas sobre os finos ombros, entre louros, ruivos, azuis e verdes nuances, não se chegando a entender de qual miscelânea de cores seriam de facto, mistério que Marley mui ciosamente guardava para si...
Enfiada numas botifarras amassadas, a miúda vestia calças legging de lycra negra bem justinhas às curvilíneas pernocas, meneando suas ancas adornadas por mini-saia de folhinhos arrendados, concebida no mesmo tecido da blusa de Marley. 
Para cima, a justíssima t-shirt rosa choque de alças bem cavadas permitia adivinhar-lhe as insinuantes linhas do esbelto tronco, mostrando-nos a perfeição do umbigo adornado com um luminescente diamante, fazendo com que as másculas imaginações lhe desnudassem os biquinhos dos oscilantes e  semi expostos seios suspensos das frágeis alsinhas, quais suculentas e estivais meloas galegas... mais ou menos assim...


-Uê!?

O que foi, pessoal?
Aquilo tinha dono e cá a Companheira mantinha-se vigilante!
Dos outros dois caminhantes, se na realidade ainda não os conheceis é porque andais bastante distraídos com as azáfamas do dia-a-dia, pois cá o Cidadão abt e respectiva Companheira não poderiam faltar a mais esta pedestrante jornada!
No asfalto, a progressão fazia-se rápida havendo dificuldades acrescidas quando se tratava de transpor troços arenosos da margem seca do Tejo.
Visto tratar-se de um vegetariano apreciador de ervas psicoactivas, Marley fixava-se em tudo quanto era plantinha que se lhe atravessava no caminho...
 ...e interrogando sucessivamente a Psiché sobre a fiabilidade das explicações dadas cá pela Companheira no âmbito da botânica medicinal, respondendo-lhe incansavelmente:

-“ lá! Ai é? Eu sei lá se é!”

Expondo uma língua maior do que a bocarra, Djáh saltitava feliz, esboçando cabriolices entre as gâmbias dos caminhantes, adiantando-se ao grupo e em rápidas correrias ia ladrando atoradas às assustadas borboletas que o driblavam em sinuosos voos.
Espantando pardais e afugentando coelhos, o labrador fizera-se num cachorro impertinente com os seus donos vociferando:

-Djáh pr’áqui!

Indiferente aos demais e apreciando pormenores da paisagem, Dakota, o robusto aviador parecia levitar nas passadas silenciosas ao ponto de sacar uns potentes binóculos das profundezas da mochila com que observou um par de flamingos rosáceos que pescavam calmamente na outra margem do rio...
O Sol despontava a meia altura lá para as bandas de Abrantes.
A certa altura o grupo foi acossado por uma matilha de cães atrevidos que deram às de vila diogo ao se perceberem que o D’jáh era para se respeitar!
Percorrendo o trilho a pé posto junto à margem, o pessoal entranhara-se numa zona remexida onde marcas de enormes rodados ousaram abrir sulcos no areal...
A aragem denunciava um intenso odor a gasóleo...
A montante vislumbrava-se uma enorme peneira, uma retroescavadora, um gerador em funcionamento e uma data de maquinarias pesadas destinadas à extracção de areias...
A paisagem mostrava-se desoladora, não havendo por ali vegetação que retivesse as margens caso o caudal engordasse.
Mais adiante a erosão era evidente, fazendo com que as lezírias agrícolas circundantes ficassem à mercê das correntes que nas zonas de inflexão fácilmente sairiam da trajectória inicial.
Na periferia, o solo apresentava-se excessivamente compactado, dificultando a infiltração das chuvas que escorreriam para o leito alterado do rio, arrastando camadas superficiais de terreno e com elas, organismos vivos.
As águas mostravam-se turvas aumentando a concentração de sedimentos em suspensão, diminuindo a luminosidade, oxigenação e ausência de vegetação circundante fundamentais à normal sustentabilidade do ecossistema fluvial, essencialmente no referente à desova, factor agravado pela contaminação esporádica de fluidos, lubrificantes e combustíveis das maquinarias cujas mucosas olfactivas tão bem o detectavam.
Está previsto que entre Vila Franca de Xira e Abrantes se proceda ao desassoreamento do Tejo com o intuito de aumentar a profundidade da corrente, devolvendo-lhe navegabilidade, mas não a extracção dos inertes no plano das margens...
Só no concelho de Abrantes há três areeiros deste género!
Vinte minutos mais adiante a margem estava escorada por molhos artificiais em betão ciclópico com o intuito de anular a força das águas que se provocassem erosão, invadiriam os campos agrícolas envolventes...
Vá-se lá perceber as políticas ambientais...
Enquanto a jusante se remexia na margem, destruindo as suas defesas naturais, a montante construíam-se dispositivos para a retenção das águas...
 Progressivamente, à distância ia-se avistando o casario riodemoinhense...
Nove quilómetros vencidos em duas horas e vai daí, a Psiché desatou a cantarolar uma lengalenga incompreensíveis enquanto encharcava as botas nas águas rasas da Ribeira da Pucariça:

-Queimadas pela brisa nesta primavera aqui estais tão pouco presentes, já fostes tão claras, profundas e transparentes, mas sómente por um amor revolucionário, vossos braços água devolverá a outra represa, com as forças do comandante Che Guevara.

Das tatuagens nos pulsos, depreendia-se que a miúda tinha um fraquinho pela cultura Inca e revolução cubana.

-É os nervos... É tipos a crise dos nervos! Não liguem... De vez em quando a minha Rainha passa-se mas é boa garina. Por isso é que a trago para estas caminhadas tipos a ver se despairece uma beca. Ela stressa bué com cenas assim!

Explicou o zeloso Marley enquanto ia rematando as rastas com um fino elástico que mais fazia lembrar o arco-íris.

-Lá boa rapariga, isso é ela!

Disparou o Dakota, de rajada...
Para um tipo com os flepes sempre em baixo, quem diria...

-Yá! Tá-se bem! São cenas freak's, irmão!

-Olha-me o lorpa. O diacho do velho parecia tão sonsinho e afinal está de olho na cachopa...

Murmurou a Companheira.

-A miúda não é nada de se deitar fora...

Interpôs este praça, mastigando uma barrita energética retirada da bolsa mochileira.

-Come e cala-te!

-Nem que seja com os olhos...

-O quê?!

-Nada... Nada...

A ribeira que mais parecia uma vala foi transposta sem grandes dificuldades exceptuando Djáh que cabriolando nas águas rasas, respingou tudo em redor tendo o Marley que pôr cobro às reviravoltas do longo e negro canídeo.
Com as lezírias às nove horas, nas águas do Tejo flutuavam quantidades de flocos de espuma lembrando pudim molotov...
Três saltos do Djáh foram suficientes para refrescar involuntariamente cá o Cidadão dos pés até à cabeça...
Cruzando os braços diante do seu esbelto tronco, a escultural Psiché arrepanhou a bainha inferior da justíssima t-shirt rosa choque, fazendo-a correr por si acima!

-Bendito sejas, Djáh!

A realidade ganhara vantagem à imaginação!
Os rijos seios pareciam libertar-se do justíssimo bikini grená...
O piercing despontando sobre o umbigo realçava o seu diamante digno de odalisca das mil e uma noites e a espátula esquerda mostrava, bem tatuada, uma rosa encarnada...

-Recorda-te do décimo mandamento... “Não cobiçarás a mulher do próximo”...

Murmurou cá a Companheira...

-Também tú! Repara...No entanto desconhecemos quem será o próximo... não concordas?

-Olha! Ganha-me tino nessa cabecinha que já tens idade!...

-Sim... Sim... Isto é de se perder o juízo e esquecer a idade...

Bom... é melhor prosseguir o relato desta crónica senão o ciberleitor vai-se queixar à entidade reguladora que o Cidadão abt escreve cenas bué da longas.
Artilhado dos seus potentes binóculos, Dakota perscrutava o horizonte sem se aperceber dos acontecimentos que se iam desenrolando na sua periferia.
Atascando-se na areia, as botas entrecortavam os rastos de pneus que serpenteavam à sombra do caniçal...
...enquanto o Sol abrasador vergastava as costas dos caminhantes fazendo o trilho mais penoso enquanto ladrando desalmadamente, o negro labrador perseguia um coelho que se escapuliu algures entre as giestas sarapintadas de florinhas amarelas.
Dois quilómetros e quatrocentos metros de irregulares passadas foram suficientes para se avistar os telhados do casario de Rio de Moinhos...
As garrafinhas de água secaram até à última gota...
 Djáh perseguia um gafanhoto que se lhe esquivava em pequenos voos rasantes...desaparecendo mais adiante numa inflexão entre os caniçais...
Fez-se silêncio...
Na intimidade, cada pedestrante sonharia com um almoço diferente, desejando que em breve terminasse a penosa caminhada em que se envolvera...
Ouvindo-se forte restolhar entre as canas, o silêncio foi subitamente interrompido pelos ganidos do labrador...
Algo não lhe teria corrido de feição... 
Poucos segundos depois, de cauda entalada entre as patas posteriores, na curva ao fundo do trilho, o canídeo surgiu disparado, enveredado numa correria nunca dantes vista, e depois estacando atrás do grupo!
O animal tão brincalhão e corajoso mostrava agora com um medo terrível de qualquer coisa que encontrara mais adiante...
Também o grupo reduziu o ritmo da dolorosa passada, não fosse por lá o Diabo tecê-las...
Quem iria á frente abrir caminho?
Pois claro que tinha de ser cá o arrojado Cidadão sem antes ter ligado os sensores da máquina fotográfica digital... e ao dobrar a derradeira curva de canas, o que avistou?
Um enorme bicharoco emergia das águas do Tejo, apontando a sua bocarra em direcção à aldeia de Rio de Moinhos
Aquele colosso pré-histórico mediria cerca de seis metros de altura! 
Havia que ir correr avisar as pessoas da aldeia sobre o perigo que as espreitava!
Como seria possível que aquele monstro tivesse chegado até ali?!
Houve que recuar três passadas para poder avisar os restantes elementos que em silêncio aguardavam ansiosamente pelo resultado da investigação...
Não sabendo bem se da sede ou se do susto, as cordas vocais embargavam-se nas consoantes!

-Um gonstgro! Esgá agm um gon...stgro a erguer...guirr ga ág...rua!!!

-Ó homem, tenha calma!

-Gagnho galba o cagúdo! O cagúdo é gue gagno galba! Vão agui bais á brente e gueixam de gão é guebarde!

-Eiiia ganda nóia, meus! O menzinho tá tipos disléxico! Tá parece que levou uma pancada na cabeça ou controlou tipos cenas fixes do Armagedon!

-Grr... rr... rrr... Béu!
-O amigo não bateu uma foto?

-Gader uba fodo goisa denhuba! Gá lá fodê gader a tofofraguia  gue fod pacaz!

-Ao menos fala direito que não se percebe nada do que dizes!

-Gader uba tofo! Gader  uba  fodo! Gader uba dofo! Gão de bercegue gada go gue guido?!Gá, guechem-se atuiande! Gá! Angôr! Gá! Gá!

-Eiiia, ganda nóia! O mano treme bué da repentes como ganjah verde! Tá mêmo ressacado tipos na purificação do Leão de Judah! É cenas da Babilónia!

Foi assim que o grupo se chegou adiante, conservando-se cá o Cidadão de cócoras, agachado junto aos juncos ressequidos...
"Taw!"     'Taw!`"    "`"Taw´"

??Soaram três estampidos!?!!??
O labrador que ganhara coragem ousando avançar à retaguarda do grupo, mais uma vez voltou a passar na bisga, em sentido contrário, fazendo com que cá o rapaz caísse de costas!
Mais tarde o Cidadão inteirou-se que o Dakota se socorreu do revólver que trouxera consigo!
O Cidadão acabara de perceber a origem da espuma acastanhada que flutuava sobre as águas, grudando-se nas margens...
Seriam naturalmente dejectos achocolatados provenientes daquele colossauro!
-Ó fessoal! Gá fá ganse? Dalhas-nos Veus!

Imperou de novo, o silêncio!
Às páginas tanta fez-se sentir uma voz gutural recitando qualquer coisa mais ou menos assim:

- "Um dia surgiu entre as nuvens brilhante e flutuante um enorme zeppelin que pairou sobre os edifícios e abrindo dois mil orifícios com dois mil e um canhões assim. 
Quando viu nessa cidade tanto horror e iniquidade resolveu tudo explodir mas até poderia evitar o drama se aquela formosa dama  o servisse nessa noite. 
A dama era Geni, mas a Geni não podia ser porque foi feita para apanhar e boa para ser cuspida e Geni dava-se a qualquer um.
Tú és  maldita, Geni... 
Atirai pedras à Geni... 
Atirai pedras à maldita Geni... 
Vai com ele, vai Geni, vai com ele, vai Geni, tú podes salvar-nos Geni. 
Tu vais redimir-nos porque serves a qualquer um, Geni.
Bendita sejais Geni!"  Pater, filius, spirictus sanctus. Amem!
Geni...  Geni...  Geni...  Geni...  Geni...  Geni...
A cantilena soava a Chico Buarque de Holanda...
Prontos, caro ciberleitor!
Isto vai-se alongado p’ra caraças e cá o Cidadão abt tem os dedos completamente dormentes de tanto teclar!
Tenha lá paciência e aguarde pelo próximo episódio!

sábado, 17 de março de 2012

O TRESMALHADO


O TRESMALHADO


 mistérios do catano nas ruas de Abrantes!
Tão escondidos e ao mesmo tempo, tão à vista!... 
Afoito de todo, cá o Cidadão abt ia enfiando um euro naquela singela greta quando súbitamente se lhe deparou algo de estranho...
O parquímetro de estacionamento da Rua Monteiro de Lima não exibia o respectivo selo de validação para o ano de 2012...
Talvez as unhas compridas do vandalismo tivessem feito o favor de arrancar o autocolante outrora grudado no caça-níqueis...
Mirando melhor o mostrador da maquineta, este praça reparou que também o seu seio carecia da respectiva vinheta de validação pelo Laboratório Regional de Metrologia de Lisboa, consistindo numa treta prateada mais ou menos deste género:
-Ná...
Registando indícios de discriminação das minorias parquimétricas, na medida em que o comum dos cidadãos paga e não bufa e apenas meia dúzia deles é sabedora destes mistérios, certamente que aquilo consistirá em mais um constrangimento para a edilidade exploratória dos sistemas contributivos das maiorias silenciosas.
É que nesse instrumento não havia selinhos de verificação!
A Camara Municipal deve ter poupado uns cobres na vistoria ou não saberá da existência da maquineta que tipos jackpot, provavelmente transbordará de moedinha.
Foi motivo suficientemente forte para que o redondo níquel regressasse imediatamente aos fundilhos da pequena algibeira porta-moedas à direita dos jeans roçados cá do Cidadão abt!
-Livra!
Até que a discriminação se resolva, jamais este praça de Abrantes por’li deixará outra parcela do seu magro rendimento!

quarta-feira, 7 de março de 2012

O GENKAN


O GENKAN


O genkan consiste num espaço físico e psicológico de transição entre o mundo exterior e os santuários escolares.
Nos Centros Escolares de Alferrarede, Bemposta e Rio de Moinhos, o genkan está delimitado por estes gradeamentos.
Manda a cultura do Império do Sol Nascente que ao transpor a zona genkan, se troquem os sapatos e os ideais pelas tamanquinhas do anfitrião, razão para que os tanakas devam trazer as unhas cortadas e os pés bem lavados e desodorizados, caso contrário... 
-Banzai!!!
Devido às características dos pavimentos pouco resistentes ao atrito causado pelos sapatos do pessoal docente, dos auxiliares e dos alunos, e porque a irrequietude das criancinhas deixaria negras impurezas e péssimas sujeiras nos imaculados uchi dos centros escolares cuja alvura nos evoca o imaginário celestial, ordenando a autarquia abrantina que se gemine este princípio importado de Hitoyoshi, para tal fornecendo quatrocentos pares de sabrinas brancas de todos os tamanhos e medidas aos seus utentes.
Desculpem o inconveniente. Quando o Cidadão pensa em sabrinas, surge-lhe este reflexo pavloviano!
Boys               Boys               Boys
Um negócio em vias de expansão na região de Abrantes.
Sugere-se a distribuição de quimonos ao pessoal para o incremento do wado-ryu, uma arte marcial bastante popular nas ilhas nipónicas.
Os papás não se atrevam a transpor a zona genkan dos centros de produção de pálidos jovens vulneráveis às agressões ambientais cujos tatami's se pretenderiam resistentes às vicissitudes próprias da idade, tendo que aguardar pelos pupilos no exterior.
Será imprescindível criar um departamento de anti-histamínicos, bronco-dilatadores e corticóides em cada centro escolar e, In shaa'Allah tais princípios se estendam ao fornecimento de material didáctico individual, imprescindível ao bom desempenho dos alunos.
Registe-se um lapso na implementação de túneis esterilizadores das criancinhas na zona genkan, para que os vírus sazonais e outros intrusos que tais não se atrevam a invadir os três uchi escolares!
O soto termina aqui!
Ainda assim se a autarquia abrantina aplicasse esta medida fundamentalista no Centro Escolar do Tramagal, pouparia uma das sabrinas nos 1,8 leitores que pretendam consultar o pólo da biblioteca municipal, na medida em que com a aplicação de alguma racionalidade, o oito décimos de leitor decerto será perneta! 
Resta saber se seria a da esquerda ou a da direita...

sábado, 3 de março de 2012

O GATÃO LERUE


 O GATÃO LERUE

Esta crónica trata de humanos surrealistas travestindo-se em tarecos e de tarecos reencarnando humanos numa época fabulástica onde os segundos se afeiçoam aos primeiros...
Nesses tempos brotavam jacarandás, sakuras, palmeiras e outras plantas exóticas nos jardins de Abrantes.
As Janeiras noites do ano de dois mil e onze iam geladas e a Lua prateada pairava grossa, cada vez mais juntinha às muralhas do castelo...
Lá fora a brisa agitava as galhas amarelas das acácias e um choro distante entrecortava o crepitar das ardentes achas aconchegadas na profundidade da lareira...
O aroma intenso a bagaço emanava do cálice que aos poucos, ia aquecendo as entranhas cá do meditativo Cidadão...
Estendendo-se pelo espaço, aquele gemido fazia-se sentir cada vez mais próximo...
Espreguiçando-se na carpete, a gata Cristie mostrava-se agitada e erguendo-se vezes sucessivas, arqueava o lombo delineado de pelos eriçados...
O barulho abalou com o distanciar da brisa, regressando no ocaso seguinte.
Precipitando-se no escuro, a Cristie desatou a calcorrear os cantos à casa numa incessante busca de algo invisível...
À terceira noite, abrindo a porta dos fundos para ir despejar o lixo, enquanto libertavam um intenso odor, os cedros pareceram gargarejar atraindo a bichana que em rasteira correria se escapuliu na sua direcção, sumindo-se na escuridão da noite retalhada pelo intrigante gemido...
Mal seja, mal será...
Os dias escoaram lentos e da Cristie nem sinal de vida... 
O choro de criança deu lugar a noites vazias...
Imaginando o pior dos destinos para a Cristie,o Cidadão vivia dias de fundadas preocupações...
Os Júniores então homens feitos, não se aperceberam da ausência da gata que um dia ousaram recolher da rua e muito insistiram para que integrasse o agregado familiar, fazendo daquele bibelôt uma excelente companheira de brincadeiras.
Recuando dezassete anos, o minúsculo ser tornara-se num ai Jesus que não se vislumbrando o género, lhe resolveram chamar Jumanji, nome do filme de ficção e aventura que houvera sido lançado à época, constando do jogo de tabuleiro mágico em que as peças eram formadas por animais selvagens que ganhavam vida a cada xeque-mate.
Durante trinta dias foram tormentos, reboliços, uma azáfama de preocupações e a tetina de um biberão que desandou p’ró galheiro até chegar aquele dia fatídico em que o bichano desapareceu sem deixar rasto...
Desesperada, a rapaziada chegou a comunicar o misterioso desaparecimento à polícia, aos bombeiros e mobilizaram-se todos os escuteiros da região em busca do Jumanji...

Wanted!
Vencidas dez noites e onze angustiantes dias, os escuteiros encontraram um homem de ar sinistro e meia-idade que próximo da lagoa do trilho represada no afluente da ribeira das Sentieiras a sudoeste de Casais de Revelhos, enrolava calmamente uma camisa de milho transformada em magnífico charuto, atiçando-lhe o lume do fósforo protegido sob as mãos enconchadas que o abrigavam do vento.
Olhando-os de soslaio, o encorpado homem indagou-os sobre o motivo de tantas correrias, convidando-os a irem ajudá-lo no amanho das terras de sua pertença, ora escassas de lavra...
Explicados os motivos e descritas as características do gatinho desaparecido, o calmo homem ora sentado num murete de pedra, apontou a pirisca entalada entre os grossos dedos da mão direita em direção a um molho de tojos que despontava nas periferias do pinhal algo distante...
Desequilibrado, magrizelas e de olhos salientes num porte alongado que mais fazia lembrar a Duquesa de Alba...
...Por lá encontraram o trémulo Jumanji oculto na penumbra da vegetação rasteira...
Ao rever-lhe o dispositivo, a malta concluiu que aquela amostra de felino, em vez de gatinho, deveria ser uma gatinha...

-Alto lá!

Ralhou o Cidadão abt!

-Se aqui há gata, isto só pode ser uma mensagem do Além!!

-Além, de onde?

Questionaram os escuteiros em uníssono enquanto perscrutavam a distância com a palma das mãos servindo de palas solares e o bichano embrulhado num casacão.

-Este animal para além de vir cravejado de carrapetas, também está carregado de misticismo!

-Como assim?!

-Não compreendem o óbvio? Este animal encontrado à beira desta lagoa depois de onze dias misteriosamente desaparecido poderá ser a reencarnação duma escritora famosa! Isto é uma pista! Um sinal, ou um sinal de pista... Nunca se sabe! Com cenas sobrenaturais não se brinca! Isto será certamente uma mensagem enviada do além!

-Aaahhh!

Na íntima dúvida se aquele seria o gato aprofilhando ou se o verdadeiro teria reforçando alguma caldeirada de codorniz, aquela trémula gatinha passou a apelidar-se de Cristie...
Revelando-se um elemento fundamental no desenrolar das crónicas de um cidadão de Abrantes...no enriçar das cablagens do computador, no combate a alguns ratos mais atrevidos... e sem ferir, trazendo os incautos pardalitos entalados nas suas presas para que cá o Cidadão posteriormente os devolva à liberdade!
Hoje, o feliz ronronar de boas vindas da cabisbaixa gata Cristie é correspondido com a indiferença dos humanos que estão de passagem...
Parte desses escuteiros passaram a polícias, doutores, advogados, arquitectos, engenheiros, músicos, marchais e outros cónegos que tais e, o misterioso homem da lagoa é pai de uma figura de vulto no universo abrantino.
Cumprindo o presságio, decorridos dez dias e onze noites sem que o Cidadão abt pregasse olho só de pensar que os Júniores se estavam nas tintas para o existencialismo do animal que tanto amaram e de momento era este desgraçado e a Companheira quem se preocupava com as doses de carapaus e os banhos a dar à bichana.
Pois bem, numa manhã gélida de Fevereiro, escanzelada de todo, a gata Cristie regressou pródiga...
Pródiga e com companhia!!!
Mas que companhia!
Foi-se a ver melhor, era um gatão enorme, todo ele preto e de gravata branca,  com feridas lascadas junto aos olhos e ao focinho...
O grosso pescoço do felino pachorrento estava envolto por uma coleira castanha...
Pelo jeito via-se que era um animal habituado a controlar a noite, daqueles que estão sempre prontos para uma boa briga entre muros e telhados... capaz de bater qualquer galã que se lhe atravessasse ao caminho!...
Um bicharoco da rua, que sobrevivia à sua custa e pelo cheiro pestilento, alimentando-se nos contentores do lixo...

-Querem lá ver que a gata Cristie arranjara outra ninhada?!

Não podia ser... 
Tinha parido uma média de duas ninhadas por ano... 
Primeiro, seis crias por ninhada, passando a quatro e ultimamente, apenas duas...
Agora até andava  sossegada... 
Para a idade avançada, já deveria ter entrado na gatopausa... Mas bem... Adiante que se faz tarde... 
De quem seria o negro bicharoco?
Havia um blogger que de quando em vez, escrevia memórias sobre o seu gato preto que possuia umas flores no toutiço rematadas com um laçarote vermelho...
a coleira do felino continha a seguinte inscriçãozita numa chapinha dourada,..

-Lerue...

Lerue...Lerue... Seria então o gatão Lerue...
Calçadas as luvas de trabalho, este voluntarioso amargunçou aquela besta revestida de garras num alguidar de águas tépidas, dando-lhe uma esfrega com o champô desparasitante pertença da Cristie, aplicando violeta de genciana nas feridas do animal e tintura de iodo nos lanhos de diferentes formas e tamanhos que o maldito bicho abriu nos pulsos cá do Cidadão.
Um bocado mais bem cheiroso, de vez em quando o gato preto espreitava os aposentos cá do Cidadão abt, partilhando a gamela com a gata Cristie que ronronando, o olhava contemplativa...
As semanas iam escoando enquanto barriguita da Cristie ganhava proeminências...
O raça da gata passara de pródiga a prenha!
Sempre aconselharam a mandar esterilizar a bichana mas como este rapaz é pró-vida, foi deixando que a natureza tomasse conta da situação...
Durante dezasseis anos ofereceu gatinhos a toda a gente!
Uns mais bonitos do que os outros, eram como periquitos coloridos. Ao lhes porem a vista em cima, jamais as crianças os largavam! 
ninhadas semestrais seguiram gatinhos para São Miguel, Tramagal, Abrantes, Abrançalha, Carvalhal, Rossio, Barreiras do Tejo, Pego, Martinchel, Tomar, e até em Marvão há genes da gata Cristie sem pedigré, reparem bem!
Pois é, quando menos se esperava, a Cristie voltara a emprenhar do gatão Lerue...
Sem que os Júniores de tal se apercebessem, pois para eles a casinha dos pais tornara-se num porto de breves passagens, dois meses depois a Cristie e o Lerue voltaram a desaparecer!
Procurando Aqui, Ali e Acolá, do misterioso gatão Lerue jamais houve notícias mas, por debaixo do molho de lenha armazenada na arrecadação soou um débil chiar de gatitos...
Encolhendo a barriga, este Cidadão conseguiu dobrar-se e ajoelhando-se, enfiou o feixe luminoso da pequena lanterna a pilhas na direção de um buraco entre os cavacos de onde vinha, os barulhinhos, avistando os inigualáveis olhitos azuis encimados pelas orelhitas pontiagudas e de focinhito escuro, lá estava a gata Cristie de guarda às suas crias recém-nascidas...
Houvera parido dois bichanos, um dos quais não se mexia... Nascera morto...
Com delicadeza para não levar uma ferradela num dedo enquanto a gata Cristie lhe farejava o pelado dorso...
Cá o Cidadão foi retirando a cria morta do interior do covil de lenha e sem que os outros humanos disso se apercebessem, fez uma covinha no quintal onde enterrou a cabecita pendente do inerte corpo...
Só então anunciou a boa nova à famelga pois da parte ruim resultou um pacto de silêncio entre cá o Cidadão abt e a gata Cristie.
Aquele gatito foi crescendo até ao dia em que houve um menino que por ele se prendeu.
Como era cria única e para que o leite não encaroçasse nas tetas da Cristie, houve que lhe retardar a entrega.
Para regozijo da pequenada, um gatito adolescente e todo raiado em tons de amarelo, partiu para o lar da vizinhança...
Os irmãozitos que faziam cá o Cidadão recuar dezassete anos de memórias e bué da histórias vividas, não conseguiam ser mais irrequietos que a sua agitada mãe...
Umas horas depois da dádiva, mamã e seus dois filhotes já tocavam à campainha cá de caselas, pedindo conselhos, esclarecimentos e recomendações do modo em como tratar do gatito...
O bichano tornara-se num desaforo... 
Eram felizes, as correrias... O ai Jesus dos petizes!
Uma vez, duas, três e muitas outras vezes bateram à porta até que às páginas tantas, junto da sua estafada mamã com as bochechas rosadas, perguntaram os pequenos:

-Senhor! Senhor! Que nome devemos de dar ao gatinho?

O Cidadão olhou o céu...
Pensando em algo de abstrato...
Pensou novamente...
Coçou a nuca para melhor poder pensar... 
Que coisa complicada...
Isto estava uma alhada de todo o tamanho...
Despachara um e agora eram três, que  tinha à perna...
Irra que assim não conseguia sossego e concentração necessários para escrever crónicas à maneira!

-Poirot!

-Puárou? Você tem ideias giras! Que nome tão engraçado para se dar a um gatinho! Puárou! Onde foi buscar esse nome?

-Ao pedigré... minha jovem senhorita... ao pedigré!

- O que é um perdigê?

-É uma estória muito longa...com pelo menos dezassete anos de vida, senhorita...

-O senhor pode-nos contar essa história?

-Ouça... Têm um computador ligado à Internet lá em vossa casa?

-Temos sim senhor!

-Vá até lá e consulte um blogue que é o “Cidadão abt - crónicas de um cidadão de Abrantes” e dará com a estória toda, tintim por tintim!

-Meninos, vamos embora que já temos nome para o gatinho!

-Poárou.., mãmã! É Puárou! Não te esqueças, mamã!

-A primeira coisa que vamos fazer ao Puárou, é capá-lo!

-O que é isso do capá-lo, mamã?

-Estejam calados meninos! Vocês não percebem nada disso!

As semanas passaram e de facto a tal vizinha sempre fez questão em cumprir a promessa de capar o gato...
De início Poirôt tornou-se tão molengas que se deixava bater pelos seus semelhantes... entretanto foi-lhes conquistando o respeito...
Bem nutrido, estimado e habitualmente deitado, não se arredava da trajetória dos humanos que descuidadamente o pisavam ou nele tropeçavam enquanto a vigilante dona, desgrenhada e em constante desassossego, corria com os demais bichanos à vassourada para que não espreitassem a melhor oportunidade de tragar as papinhas depositadas na gamela prateada do seu querido Puárou, consistindo num excelente binómio...
os agradecimentos ao Canil-Gatil de Santarém e ao seu atencioso tratador que exceptuando o personagem da gata Cristie, teve a amabilidade de facultar os imprescindíveis actores de quatro patas que ajudaram à concretização desta crónica dedicada a todos quantos gostam de animais, com todo o apreço para o blogger Aqui-Ali-Acolá