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Este militante anti-cinzentista adverte que o blogue poderá conter textos ou imagens socialmente chocantes, pelo que a sua execução incomodará algumas mentalidades mais conservadoras ou sensíveis, não pretendendo pactuar com o padronizado, correndo o risco de se tornar de difícil assimilação e aceitação para alguns leitores! Se isso ocorrer, então estará a alcançar os objectivos pretendidos, agitando consciências acomodadas, automatizadas, padronizadas, politicamente correctas, adormecidas... ou espartilhadas por fórmulas e preconceitos. Embora parte dos seus artigos se possam "condimentar" com alguma "gíria", não confundirá "liberdade de expressão" com libertinagem de expressão, considerando que "a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros"(K.Marx). Apresentará o conteúdo dos seus posts de modo satírico, irónico, sarcástico, dinâmico, algo corrosivo, ou profundo e reflexivo, pausado, daí o insistente uso de reticências, para que no termo das suas incursões, os ciberleitores olhem o mundo de uma maneira um pouco diferente... e tendam a "deixá-lo um bocadinho melhor do que o encontraram" (B.Powell). Na coluna à esquerda, o ciberleitor encontrará uma lista de interessantes sítios a consultar, abrangendo distintas correntes político-partidárias ou sociais, que não significará a conotação ou a "rotulagem" do Cidadão abt com alguma dessas correntes... mas tão só a abertura e o consequente o enriquecimento resultantes da análise aos diferentes ideais e correntes de opinião, porquanto os mesmos abordam temas pertinentes, actuais, válidos e úteis, dando especial primazia aos "nossos" blogues autóctones... Uma acutilância aqui, uma ironia ali, uma dica do além... Assim se vai construindo este blogue... Ligue o som e... Boas leituras.

domingo, 26 de maio de 2013

OS CLEPTOBRONZES


OS CLEPTOBRONZES

  Lá para as bandas da Malásia, na Ilha do Bornéu onde viveu o ficcionado Sandokan e Luiz Vaz de Camões derreteu alguns anos da sua vida combatendo o piratedo, existiu a tribo dos Dayaks que nas horas vagas se entretinha a decapitar os cobradores de impostos e o pessoal invasor, espetando as cabeças das vitimas na ponta de paus que deixavam mirrar à torreira do Sol, causando estranhos odores e consequente repulsa nos potenciais candidatos ao território indígena mais não se esmiuçando pormenores, caso em que pela certa o ciberleitor regurgitaria bílis e fel...
- ' !Clap!' "
Foi uma mosca que poisou aqui na sandes... 
Escusado será explicar que nestas circunstâncias, as cachopas da tribo Dayak só acasalavam com primos do primeiro grau!
Para que as vísceras não fossem transportadas pelo mosquedo, com a introdução de novas tecnologias de ponta, inventaram-se fornos crematórios bastante sofisticados onde passaram a enfiar as cabeças!
Na Europa ocidental desenvolveu-se outra tribo que mais tarde se dedicaria à colecta de cabeças constituídas por ligas de cobre e estanho...
São os Cleptobronzes, minoria presumivelmente ambientalista que não se deixando mostrar ao povo, se organiza em pequenos clãs e em rituais secretos crema os bustos capturados pela calada da noite, extraindo-lhes o Cu 69, metal de massa atómica 63.6, mais-valia para sobreviverem acima das possibilidades, amealhando cobres complementares aos subsídios de reinserção, aleitamentorendimentos mínimos que lhes são pagos pelos contribuintes que trabalham para os descontos da SS (Segurança Social) e afins.
Isto vem a propósito que sempre adiantada, inclusive na evolução antropológica do homo-sapiens inter pares, também a urbe abrantina possui os seus Cleptobronzes e vasto território onde poderão efectuar a limpeza étnica das figurinhas bronzeadas que salpicam a urbe...
Também há por aí algum alumínio a mais, ora na água da Concavada, ora nas torneiras da Bemposta, sendo-nos cobrado na tarifa de resíduos sólidos variável  à ordem de 0,1494€ por cada metro cúbico consumido , importância a vigorar no momento em que este post foi publicado...
Na urbe tubuca vai para dois anitos que o busto do benemérito Dr. António Augusto da Silva Martins resolveu sacrificar os seus prestimosos cobres em benefício dos Cleptobronzes, apeando-se discretamente do pedestal sito no Jardim do Castelo!
Se bem repararem o local está assombrado, acarretando bastantes dificuldades na captura de imagens...
Quanto a D. Francisco de Almeida, talvez os Cleptobronzes tenham algum receio em se ferirem no fio da espada porque segundo consta,  D. Francisco tem por hábito usar a espada para aparar os pelos da barba... Mas um dia, marcha.
Seguiu-se-lhe a esfinge de Nuno Álvares Pereira que arrastando dois pesos de consciência, um porque no sítio do Outeiro não cabia tamanho contingente de tropas em campanha que partiram para Aljubarrota como tem sido por aí alvitrado...
...e o outro porque a dita batalha não passou dum terrível massacre onde sete castelhanos preferiam ser incinerados numa fornalha de pão, a maltratados pela ala dos namorados que rejeitaram os préstimos amorosos da fogosa padeira Brites... De Almeida?
Uma feiosa do camandro!
Reza a estória que quando a fulana abria a boca ou as pernas, emanava um odor idêntico ao das cabeças da tribo Dayak!
Azar dos azares, os sete castelhanos foram agarrados pela Brites que alvoraçada por carência d'homem se lhes afilou aos bofes, acariciando-os com o seu dispositivo erógeno até não mais poder!...
Como a crise é grande e os Cleptobronzes andam à rasca de finanças que nem lhes chega pr’á gasosa dos bólides, aí pelo dia 20 de Maio resolveu o benemérito Actor Taborda, (vizinho da presidente do município tubuco cuja residência tem alarme armado e a dona muito insistido em referir o injustificado sentimento de insegurança da população que rege)... 
...doar o seu busto que há uma parga de décadas dormia ao relento no centro do jardim com a sua toponímia, contribuindo assim para o desafogo financeiro da tribo noctívaga.
Os Cleptobronzes têm futuro em Abrantes, podendo aproveitar os incentivos fiscais para microempresas na medida em que a recolha de artefactos, bustos e estátuas para posterior cremação será uma actividade inovadora, havendo muito serviço a desenvolver na região, senão vejamos:
Começando pela Praça Raimundo Soares, estão por lá três mulheres numa calhandrice pegada, não havendo meio de encherem os cântaros e enervando bué quem passa, por nunca se saber muito bem de quem estão a falar...
Descendo ao Largo Ramiro Guedes, caiu ali uma palmeira que há muito se mantém atravancada no caminho, não havendo serviço camarário que se preste à sua remoção do local...
Mais abaixo, a babosa estilizada ainda vaza a vista de alguém!!! 
Contradizendo a ordem natural, a planta tem as raízes amargunçadas na água desconhecendo os engenheiros urbanos que aquilo é um cactáceo da tribo dos aloés, planta carnuda que dispensa água, conservando-a no seu íntimo. A razão para que mantenham a babosa permanentemente humedecida talvez se prenda com as suas propriedades antioxidantes...
Cristóvão Colombo administrou-a aos seus marinheiros para lhes acelerar o trânsito intestinal...
Ora devido ao muro prantado onde há muito se destilam diarreias mentais, seria benéfico que o clã de Cleptobronzes levasse a babosa bronzeada dali para fora!
Mais ao lado, no Largo João de Deus, aquela minhoquice estrangeirada distinguida do ar só serve para levar pombos, pardais e outros passarões ao engano! 
O pessoal frequentador das feiras poderá confundir aquilo com porras recheadas, arriscando-se a quebrar os dentes numa trinca mal dada... É que o Senhor Diniz além de aposentado, agora está mais virado para a carripana Citroën da Calouste Gulbenkian e a literatura juvenil!
No enquadramento da tese de Colombo, cá a Companheira disse que estes bronzes poderão representar tripas de porco, alusivas aos enchidos de Rio de Moinhos... 
Pelo aspecto, provenientes do intestino grosso do suíno, seriam indicadas para confeccionar paios e morcelas de arroz... pondo-se igualmente em cima da mesa a hipótese das vísceras bronzeadas aludirem a tripas à moda do Porto ou ao bucho do Pego...
Porém, excursão de turistas muçulmanos que encarasse este sórdido cenário, entraria de imediato em estado de choque desatando em lamuriosos prantos de "ala a que bar!!!"e indo terminar nos serviços de urgência sistematicamente lotados  do Hospital Dr. Manuel Constâncio onde se desencadearia uma réplica do Ramadão no jardim adjacente e respectivos corredores...
Voilá, senhores! Para evitar situações constrangedoras, aqui os Cleptobronzes não terão mãos a medir.
Desde a maldição lançada ao petrificado Albanito que há trabalho redobrado na escadaria da Praça Barão da Batalha... 
Estão lá um dandy, um idoso caixa d´óculos e a Matri-Harka com o seu esquivo Albanito, ocupando o lugar dumas quantas pessoas que desejem assistir aos concertos jovens a despoletar-se durante o horário normal de trabalho, atroando os tímpanos dos fregueses e lojistas circundantes. 
Se bem o recordarem, este miúdo protagonizou uma rocambolesca aventura sem paralelo na região tubuca, tendo o trágico desfecho acontecido exactamente na Praça Barão da Batalha!
Aqueles bronzes permanentemente sentados no anfiteatro ao ar livre incorrem na prática de estacionamento abusivo sem dístico!!
Se algum dia depararem com esta situação, não estranhem... será naturalmente a bisavó dos Cleptobronzes fazendo horas extra, numa diurna...
Outra coisa que tem feito bastante confusão será a presença do caixotão cinzento e de testa verde, sitiado entre a boca-de-incêndio e o marco do correio, na extremidade sul da praça mais frequentada da cidade...
De repente aparenta ser uma máquina de jogos electrónicos como as dos casinos, mas não tem greta para enfiar a moedinha...
Depois já nos parece um televisor...
Estará alguém lá dentro a ver quem passa no largo?!
Será aquilo uma espécie de posto telefónico de SOS ao género dos que encontramos à beira das auto-estradas?
Talvez os engenheiros da autarquia tubuca tenham explicação plausível para tal mistério ou deva ser serviço mais indicado para  os sucateiros...
Mais ao lado por enquanto podemos encontrar o busto do General Avelar Machado que passaria despercebido se lhes tivessem deixado crescer o matagal em redor mas assim dá muito nas vistas. 
Sendo a constante manutenção do espaço envolvente uma grande dor de cabeça para a autarquia tubuca, recomendava-se aos Cleptobronzes regionais que para não perturbarem ao transito nas horas de ponta, executassem a recolha nocturna do conteúdo, poupando o General a insolações e a farfalhitas de pombo!
  Reparam na mulher contorcida junto à Biblioteca António Botto que nos faz lembrar uma ginasta, uma vitima de violência doméstica ou então uma pessoa embrenhada em profundos pensamentos? 
Com tanta gente por aí a pensar por nós, dispensa-se aquela imagem degradante podendo a tribo dos Cleptobronzes dar um jeito na coisa.
Descendo até ao Rossio ao Sul do Tejo encontramos a representação estilizada de uma embarcação fluvial movida à vela... 
Ora bem, com o açude desinsuflável atravancado no caminho, não há lampreia, charrôco ou fragata que suba o Tejo e só as fanecas vindas dos mares salgados o conseguindo fazer de carrinho, razão para que as âncoras estejam ali a mais! 
A faneca bronzeada pode ficar, se faz favor!
O busto do Soares Mendes causa-nos nervos miudinhos! 
Nunca se sabe quando é que ao apear-se dali, o homem apanha com um veículo embolado do Pego, que possa interferir na alavancagem do pé-de-cabra!!!
Indo até ao Tramagal, o que encontramos no Mirante?
O Comendador Eduardo Duarte Ferreira!
Com o fim da guerra colonial foram-se as Berliet’s enquanto da Roménia um engenheiro dissidente nos trouxe os Portaros!
Depois os Pajeros vieram do Japão e assim sucessivamente. 
Como não se  fartasse de bronzeados, o homem ficou para ali solitário, apanhando Sol e a pregar para o deserto!
Haja alguma complacência para com este busto!
O Doutor João José Alves Mineiro é o mais puro exemplo de como em casa de ferreiro, espeto de pau! 
Deveriam os autarcas deveriam estar cientes que nem só as vagens das favas secas provocam erupções cutâneas como também o algodão dos plátanos causa irritação, inclusive nas faringes das esfinges! 
Plantaram a lápide do médico no Ribeiro Seco, perto da praga de plátanos que vem sitiando o Jardim da República da vila convívio, ora vejam bem! 
Pelo homem ter sido o primeiro médico e benemérito da terra, não significa que esteja imune a essas árvores letais que debaixo para cima mais cedo ou mais tarde as raízes lhe irão castrar os fundilhos da lápide! 
A solução para evitar tanto sofrimento na esfinge que nem espirrar pode, passa por arrancá-la dali, missão dificuldade reduzida para Cleptobronze que se preze.
Na Concavada encontramos a cabeça de António Botto, o tal poeta que errou na profissão porque gostava de criancinhas e o primeiro homossexual a ter honras de ser oficialmente reconhecido pelo Governo da nação
Se o projecto da rota gay fosse avante, seria interessante incluir uma romaria ao Jardim António Botto, podendo aproveitar-se algum espaço para desenvolver o tal viveiro de broboletas que foi magicado para as estufas da Escola Dr. Manuel Fernandes, em Abrantes... 
-A propósito, sabem onde é que o homem tem mais carne ao pendurão?
 Não sendo assim, o busto pode ser incinerado que não faz ali falta alguma!
Adiante que se faz tarde...
Dando uma volta ao bilhar grande, podemos constatar que a greta da ponte municipal que cruza o Tejo, a caminho das Mouriscas, se encontra reparada e devidamente coberta com uma grelha! 
Afinal aquilo foi o esfíncter do tabuleiro que se houvera devassado com o uso, tecnicamente designado por junta de dilatação!
Já na Mouriscas que é nome lindo para uma aldeia, damos com uma preciosidade cravada no canteiro fronteiro à da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes! 
É a esfinge do Professor Matias Lopes Raposo que ali está plantada!...
Aquilo não é tentação para Cleptobronze que se preze?
Ora reparem na atenção que este aluno dispensa ao seu mentor...
O homem ali, que nem um livro aberto... faltando-lhe as sílabas que presumivelmente terão condimentado uma sopinha de letras confeccionada pelos Cleptobronzes.
Certo que aquilo “é pedra” contextualizada aos mais recentes códigos de comunicação mas abstraindo-se ao evidente, o jovem entretêm-se com o sacana do gadjet
Haja quem lhe explique que os aparelhos electrónicos colocados junto aos órgãos genitais afectam negativamente a performance sexual!
Dizem que tais disfunções são influenciadas pelas radiações electromagnéticas.
Finalmente regressados a Abrantes damos com uma família inteira de bronzes constituída pelo pai, a mãe, a filha espigadota e um filho menor...
Reparem na atenção que os progenitores dispensam ao puto enquanto a cachopa parece olhar as gaivotas que esvoaçam no firmamento... 
Devia estar a adivinhar-se uma tempestade quando ficaram para ali petrificados...
Uma espécie de lava súbita cuspida do monte Vesúvio, ou coisa do género os terá surpreendido...
Cá o Cidadão ariscaria que os fulanos demonstram um certo desprezo pelos turistas...
Alguém os ameaçasse com os Cleptobronzes, que são implacáveis caçadores de bustos, eteceterital, e veriamos se essa famelga não assumia outra postura mais interactiva perante os transeuntes!
Cleptobronzes incluídos, seria necessário fretar um minibus para recolher a família inteira! 
Por exemplo... Olhem! A Busa serve bem para esses fins!
É a viatura de uma autarquia familiarmente responsável.
Para terminar a ronda pelas tasquinhas tubucas, a tribo poderá deslocar-se ao Quartel de Cavalaria e recolher a viatura que se encontra estacionada à entrada da porta d'armas!
Esse derradeiro serviço seria o sonho de qualquer Cleptobronze que se preze e o garante da reforma tribal, como se lhes tivesse saído o euromilhões e a terminação em simultâneo!
Ah! Pois.. Faltou a resposta para a tal questão... 
-É no talho que o homem tem mais carne ao pendurão!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O BURACO NEGRO


O BURACO NEGRO


  A Via Láctea não é propriamente uma estrada construída à base de papas de iogurte, requeijão ou queijo Emmental, nem o caminho para Santiago mas sim a nossa estimada Galáxia constituída por biliões de estrelas e hipotéticos sistemas planetários, que girando em incessante espiral vão sendo papadas por enormíssimo buraco próximo de Sagitário, cujo núcleo será delimitado por um disco de gás e poeiras interestelares a elevadíssimas temperaturas e exercendo tremenda força de gravidade que nem a velocidade da luz lhe consegue escapar.
Esse sítio pr'ó esquisito é o Buraco Negro prantado no núcleo da Estrada de Santiago!
Próximo do ponto de fusão, Hefesto, filho de Zeus, trabalhava ligas metálicas aquecidas em fornalha mantida a altas temperaturas e assentando as peças sobre a bigorna, ia-as moldando a seu belo prazer sob as percussões do pesado martelo, até delas extrair a forma desejada para os utensílios pretendidos.
Da paixão entre Hefesto e Atena nasceu Pandora, aquela que tudo dava e tudo possuía. Até então, sendo as mulheres seres divinos e exclusivos dos Deuses, entendeu Zeus oferendá-la aos mortais.
Das virtudes atribuídas no Olimpo, o Conselho dos Deuses fez de Pandora a primeira dama possuidora de beleza, sedução, graça, inteligência, persuasão, meiguice, paciência, languidez na dança e habilidade manual.
No entanto Hermes, um dos doze Deuses do Conselho, deixou-lhe uma sementinha de mentira e traição.
Prometeu, roubara o fogo da casa do Olimpo para ajudar o irmão Epimeteu que houvera esgotado todos os dons do Universo na concepção dos animais, para que o desse aos homens moldados no barro. Por tal incúria Prometeu foi severamente castigado por Zeus que o amarrou a uma rocha no alto do Monte Cáucaso onde sob forte calor, todos os dias os corvos lhe iam descarnando as entranhas e o fígado que miraculosamente se regeneravam.
Entretanto, Prometeu confiara a guarda de Pandora a seu irmão Epimeteu que afrontado com tanto fascínio e beleza, esqueceu as recomendações do irmão e de que a cachopa não seria um exclusivo do divino mas se destinaria aos homens.
Traindo a fé do irmão, Epimeteu desposou Pandora, avisando-a que nunca abrisse uma caixa que lhe sendo confiada pelos Deuses a conservava em casa e na qual estariam aprisionados todos os males e virtudes deste mundo.
Não resistindo à curiosidade de abrir a caixinha, num dia fatal a abelhuda Pandora libertou todos os males e todas as virtudes, apenas retendo a esperança e... Não, ciberleitor...
Não é o que está para aí a magicar...
o Cidadão não flipou de vez nem isto consistirá num buraco rasgado no blogue...
Há outra chave para abrir a Caixa de Pandora, mas fiquemos por esta, que se alonga a crónica.
Avançando...
O espeto é um utensílio de culinária geralmente em ferro ou aço, também podendo ser um pau aguçado, bastante útil para grelhar alimentos sobre o carvão incandescente, podendo com ele assar-se um veado inteiro, uma vaca, um porco, um coelho, uma galinha ou até um simples passarinho, piu piu.
Pau pode significar muita coisa, como por exemplo o pau de palanque, consistindo numa peça marítima que serve para manobrar as embarcações do Tejo, ou por exemplo pau d’arco, designação popular do ipê roxo, planta que os índios sul-americanos utilizam no sarar de muitas maleitas ou ainda o  johimbe, (não confundir com zombie), planta detentora de efeitos psicoactivos e estimulantes ao déficit das vontades...
Para os bons observadores, esta região contém matéria factual a dar com um pau
Semanticamente analisado, o "pau" é um termo que pode apresentar-se em sentido restrito como no sentido lato e esta crónica bem se tornaria um enigma indecifrável para o ciberleitor se não rememorássemos o fatídico sábado da grandessíssima Tormenta19 de Janeiro de 2013 onde os ventos ciclónicos atingiram 140 Km/h, derrubando sinais, postes, árvores, até destelhando habitações, não escapando o Vale das Morenas onde deixou tudo pr'ó derreado e completamente encharcado...
Estranho...
Quando este rapaz cita Vale das Morenas, da libido saltam-lhe algumas imagens desta índole...
Afirmaria mesmo que o Diabo andou à solta em Vale das Morenas...
Está a ver?!!! Outra vez a mesma cena!
Bom... Se bem estiver recordado, no 1º de Dezembro de 2011 foi aqui cronicado um grande tralho e o imbróglio do acesso à Torre do Tombo, vulgo Arquivo Histórico Eduardo Campos, mais precisamente na Rua Fausto Sacramento Marques, exactamente em Vale das Morenas!
Prontos! Novamente o bendito reflexo!
A seu tempo essa rua acabou asfaltada, ficando por resolver a questão dos tralhos iminentes de quantos após consultarem os pergaminhos, se arriscam descer a escadaria do arquivo histórico mas, como diz o povo, quando a manta é curta, ao taparmos a cabeça descobrem-se-nos os artelhos...
E toda esta crónica, porquê?
Porque no dia da Tormenta, ali a cem metros do arquivo, pelas coordenadas geográficas 008º 11" 41.85' W,  39º 29" 30.34" N, o solo da Via Industrial escancarou-se de par em par, minado por fluxos de água subterrânea e pelo dióxido de carbono, fazendo da estrada um verdadeiro Emmental, deixando metade da faixa de rodagem abatida na extensão de oitenta  metros...
...e se nos aventuramos ao longo da calçada, sentimo-nos flutuar sobre as lages que nos poderão engolir a qualquer instante, sendo vencidos cento e vinte dias sem solução à vista e o subsolo em situação periclitante, óptimo para habitat de enormes ratazanas.
Como em casa de ferreiro, espeto de pau e assim destrinçado o enigma da Via Láctea, poderemos constatar que escassos cem metros são a distância que separa o desalento da via relativamente aos estaleiros municipais...
...onde mora maquinaria e outros materiais necessários à reparação da esventrada coisa, mas... havendo sempre um “mas”...
...sendo pouco frequentada pelas “forças de intervenção crítica" podendo também designar-se de "mass crítica," mas substancialmente assediada pelos beneméritos da “Sociedade Civil” que por ora mantêm as atenções centradas na administração do corpo de bombeiros, vão-se nesta zona olvidando os gradeamentos de protecção ligados entre si por fitas plásticas listradas a branco e vermelho, na esperança que seja lançado um hipotético concurso público atrofiado por ajustes directos.
-Pssst! Não tente enfiar o dedo no buraco porque pode dar cabo do monitor!
Pese ambas disporem de buracos negros, não confundamos pois esta Via Industrial com a Via Láctea...

sábado, 11 de maio de 2013

O PANTEÃO TUBUCO


O PANTEÃO TUBUCO


  Era erguendo templos cristãos sobre mesquitas muçulmanas em ruínas que a dinastia Afonsina e as Cruzadas afrontavam a mourama.
Essa rapaziada do norte de África passava-se dos carretos com tais arremedos, conservando o mau tom de atacar o cabeço, dizimando tubucos, casario e templos cristãos...
O caso em apreço deu-se com a mesquita que existia no alto de Abrantes em que sendo D. Afonso Henriques homem mui aguerrido na reconquista de territórios a favor do Condado Portucalense com o empurrãozinho dos Cruzados de quem descendia pois seu pai D Henrique foi precisamente um nobre cruzado francês cujo objectivo seria expulsar os muçulmanos da Península Ibérica, delegou a seu filho D. Sancho I a missão de edificar o templo cristão que por seu turno e iguais motivos de hiperactividade guerreira, passou a pasta a D.Afonso II, neto do reconquistador, concretizando-se tal projecto em meados de 1215...
Azar dos azares e para gáudio dos muçulmanos, duzentos e catorze anos vencidos, no inicio da Segunda Dinastia, durante o ano da graça de 1429 no reinado de D. João I... o tal Mestre de Avis de quem muito se falafez-se sentir um arrasador tremor de terra que mandou abaixo as empenas do casario incluindo a Igreja de Santa Maria do Castelo, tendo em 1433 o alcaide-mor D. Diogo Fernandes de Almeida, esposo de Dª Brites Enes, bisneta de D. Pedro I, recuperado a dita cuja igreja e segundo as inscrições no frontal do túmulo porque há testemunhos em como o senhor D. Diogo ainda era vivo em 1453... merecendo ali absoluto repouso a partir de 1450, em ostensivo mausoléu ornamentado com elementos artisticamente talhados na rocha calcária, concebidos à sua medida e à imagem dos túmulos dos Infantes que descansam no Mosteiro de Santa Maria da Vitória talhados pelo mestre Afonso Domingues, cuja cantaria nos revela um frontal rendilhado e debruado a folhagem retorcida, monumento encastrado na concavidade semicircular embutida na parede que poderemos encontrar na capela-mor, sobre o lado direito do topo do templo, resguardado das vistas pelo arco Gótico triunfal que demarca os espaços. 
A face do arco quebrado interior apresenta a superfície adornada por uma fileira de folhas e rosas desabrochadas, nascendo o arco conopial da base do sarcófago com o extradorso adornado por uma franja vegetal onde acima do friso do frontal se desenvolvem os ramalhetes, sendo o gablete rendilhado e rematado com um penacho de folhagem.
O conjunto é delimitado por dois pilaretes góticos apainelados e encimados por pináculos piramidais adornados por um renque de flores-de-lis e o fundo do nicho revestido em azulejaria de corda-sêca, de raíz hispano-árabe, bastante disseminada na Andaluzia.
À esquerda do frontal do sarcófago damos com o brasão dos Almeidas estando à direita insculpidos seis barriletes, consistindo em apetrechos bélicos associados à actividade de D. Diogo de Almeida, uma versão medieval de coquetéis molotov que serviam para lançar lume no interior das fortalezas como por exemplo em 1415 que partiu com D. João I à conquista de Ceuta e participando em diversas incursões pelo Norte de África onde por algumas vezes as coisas não lhe correram de feição como em 1463 na Serra de Benacofú em que as suas tropas desbaratadas pelos Towaregues, tiveram que dar às de Vila Diogo!... 
Este aventureiro ligado aos negócios das minas, dos corais e da pesca, aos dezassete anos, ainda maçarico na arte de guerrear, partilhou o seu primeiro fiasco com Heitor Homem ao tentarem capturar uns quantos nativos nas margens do Rio do Ouro, região achada um ano antes pelo navegador Gil Eanes, hoje terras da Guiné! 
Além dos locais lhes terem escapado por entre os dedos, estes dois inexperientes cavaleiros regressaram feridos, esfomeados, esfarrapados em montadas exaustas para junto das naus cujas tripulações os julgavam desaparecidos, tendo percorrido cerca de oitenta quilómetros embrenhados em matagais! Uma espécie de praxe...
Com tanta adrenalina à flor da pele e sendo perfeito exemplo de família numerosa, sobre o lado esquerdo e fronteiro da capela, em túmulo distinto repousam os corpos do filho D. Lopo de Almeida, 1º conde de Abrantes falecido em 1486 e de sua esposa, condessa Dª Brites da Silva, que fora camareira-mor da Rainha Dª Leonor. Como os quinhentistas não tinham televisão nem computadores, deste casamento resultaram dez notáveis rebentos, sendo eles D. João de Almeida, D. Jorge de Almeida, D. Francisco de Almeida, D. Diogo Fernandes de Almeida, D. Pedro de Almeida,  D. Fernando de Almeida, D. Duarte de Almeida, Dª Isabel da Silva, Dª Branca Gil de Almeida, e Dª Briolanja de Almeida. Sendo aquela alcofa apanágio de arroz com feijão, D. Lopo resolveu aventurar-se noutras saias de onde resultaram D. Afonso de Almeida e Dª Catarina da Silva... 
Só cá para nós que ninguém nos ouve porque esta crónica é escrita, conta aqui a Companheira que no século XX ainda era moçoila, quando na aldeia dela conheceu uma mulher parideira que no dia seguinte ao de dar à luz, ia indiferente lavar a roupa para a ribeira... ao todo, foram uns quatorze! 
Quando um vestia a camisola o outro trazia as calças, quando uma envergava a saíta, a outra trazia a blusa e assim por aí adiante...
Tal como no mausoléu de seu pai, apresenta-nos um arco inflectido entre côncavo e o convexo terminando em vértice... 
...sendo delimitado por dois pilaretes encimados por pináculos piramidais e a orla superior ornamentada com franjas de gabletes, penachos e cogulhos idênticos ao túmulo do pai, excepção feita para a última nervura dentro do nicho sobre a tampa do sarcófago que nos revela uma renda lobulada pendente do intradorso idêntico ao da porta do Mosteiro de Santa Maria da Vitória tendo no fundo insculpida uma cruz com coroa de martírios sendo a tampa do túmulo abaulada e ornamentada com pequenas coroas de folhas e bolotas em ambas as extremidades.
No frontal do sarcófago encontramos escritos góticos e por baixo, o brasão dos Almeidas com um cordame em nó cego onde estão suspensos dezoito linguetes furados, aparentando-se a castanholas emparceiradas três a três, e mais à direita um losango com o escudo dos Almeidas e o leão dos Silvas.
Aos pés deste túmulo, em campa rasa podemos encontrar a morada de D. Afonso de Almeida, filho do casal, tendo falecido em 1482, com dezassete verdes anos.
 O outro filho do casal herdou o nome do avô Diogo Fernandes de Almeida, tendo sido um dos Priores do Crato.
A dois terços da nave, antes de transpormos o monumental arco de volta perfeita, sobre o lado direito damos com o lindo túmulo do neto D. João de Almeida, 2º conde de Abrantes que bateu a bota em 1512 e de sua esposa Dª Inês de Noronha que se foi em 1445 e sendo um dos progenitores de D. Lopo, a arca tumular assenta sobre três leõezinhos alegóricos da aguerrida bravura do seu ocupante.
-Ná... Havendo assuntos mais importantes a tratar, naquele tempo ninguém alinhava em futebóis!

Neste mausoléu encontramos similitudes à portaria da igreja de São João, em Tomar e se compararmos as datas das construções, 1510 em Tomar  e 1512 em Abrantes, presumimos que fossem obras do mesmo autor que terá recebido ensinamentos do mestre Huguet, escultor de origem britânica que deu largas à imaginação desenvolvendo o estilo Gótico Tardio, também designado por Gótico Flamejante.
Distingue-se dos anteriores pelo seu arco facial de volta perfeita quebrada por um coração invertido sugerindo a ideia de um corte feito em cúpula bolbosa hispano-árabe, de influências muçulmanas, tal como a azulejaria predominante, tão sómente porque o termo “Al-Meyda” - آل ميدا, será de tais origens, designando local plano e elevado, ou mesa, nome de uma vila fortificada de Ribacôa de onde são originários os antepassados dos Almeidas, descendentes de um tal Dom Payo Guterres Amado que conquistou o castelo de Al-Meyda aos mouros tendo recebido de D. Sancho I o título de Senhor de Al-Meyda que mais tarde evoluiu para Almeida, atribuindo este apelido aos seus progenitores, sendo Pedro Paes de Almeida, o primogénito dos Almeidas e Fernão Álvares de Almeida, o cavaleiro da Ordem de Cristo e aio dos Infantes D. Pedro e D. Duarte, que assentou praça em Abrantes, sendo pai do alcaide-mor Diogo Fernandes de Almeida.
Esta teria sido a residência oficial dos alcaides, mais conhecida por Alcaidaria.
Um último arco no interior do nicho é constituído por dez volutas rendilhadas na pedra transparecendo algum maneirismo do conjunto.
Hão-de reparar que nos vãos cavados no arco intermédio e no arco conopial predomina ornamentação com motivos do reino animal e vegetal onde são representadas diversas cenas do quotidiano cinegético.
Cães de focinho pontiagudo com coleiras cardadas perseguindo javalis, animais estranhos fugindo a galgos, enormes aves de asas abertas lutando entre si, leões, ratos e caracóis entrelaçam-se em cardos, cachos de uvas e parreiras que sobem e descem, trepando os vãos dos arcos até ao remate do conopial onde se transformam em moldura do vão e de bolbo, ostentando o brasão dos Almeidas encimado por um bicho-de-sete-cabeças!
Os excações entre o primeiro arco e os contrafortes são preenchidos por oito folhas estilizadas e diversos ramalhetes de flores esculpidos na pedra.
Tal simbologia indiciará que este Almeida dos quatro costados seria um romântico apreciador da natureza, da caça e das aventuras além-fronteiras
Como naqueles tempos os preservativos eram enxertados em tripa de carneiro, este 2º conde de Abrantes  teve uma filharada de se lhes tirar o chapéu, tendo sido eles D. Lopo de Almeida, 3º conde de Abrantes, D. Pedro de Almeida, D. António de Almeida, D. Tristão de Almeida, D. Bernardim de Almeida, D. Cristóvão de Almeida, D. Duarte de Almeida, Dª Joana de Noronha, Dª Leonor de Noronha, Dª Brites de Noronha, Dª Isabel de Noronha, Dª Maria de Noronha e... após a morte da sua esposa Dª Inês de Noronha, teve mais quatro filhotes de outras duas mulheres, sendo eles D. Luis de Almeida, Dª Beatriz de Almeida, D. Garcia de Almeida e D. Estevão de Almeida!!!
Coitadinha da Dª Inês de Noronha..
Sendo a idade fértil bem reivindicada pelo marido não é de estranhar que lhe tivesse dado o badagaio tão cedo...
Desde1584 junto a este túmulo jaz em campa rasa D. Dinis de Almeida, filho de D. Lopo de Almeida... o tal 3º conde de Abrantes que mandou edificar o Convento de Santo António nas terras de Abrahan-Zahid onde os seus ossos descansam na ermida da Senhora da Luz, igualmente erigida sobre as ruínas de uma mesquita!
As coordenadas geográficas para lá se chegar são: 
008º 12' 5353'' W, 39º 29' 4388'' N...
-Cá está!

Não confundais este D. Lopo de Almeida, também pai de D. Miguel de Almeida, 4º conde de Abrantes... o tal Conjurado que em 1 de Dezembro de 1640  no Paço da Ribeira lançou o Conde Andeiro pela janela abaixo contribuindo de sobremaneira para a Restauração da Independência... com o outro D. Lopo de Almeida que foi 1º conde de Abrantes...

-Conclui-se que esta família tinha pêlo na venta...

Ai, ainda não percebestes?!
O 3º conde era neto do 1º conde!
Foram dois Lopos!
No lado esquerdo da nave temos dois arcossólios menos ostensivos que dão guarida aos senhores da Villa do Sardoal e alcaides-mores de Abrantes, já entrando no estilo maneirista, contendo túmulos poligâmicos, um deles pertença de D. António d’Almeida, filho de D. Lopo de Almeida, falecido em 1556, da sua esposa Dª Guiomar da Cunha que foi para os anjinhos em 1574 com sessenta lindos anos e da segunda esposa Dª Joana de Meneses, falecida em 1556... 
 O outro túmulo, pertença de D. João de Almeida, o alcaide-mor de Abrantes que participou com D. Sebastião na malfadada Batalha de Alcácer Quibir, falecido em 1592, aos cinquenta anosde sua esposa Dª Leonor de Mendonça que foi ter com o marido em 1598 e ainda de Dª Joana de Meneses, sua segunda esposa...
Haja Deus!
Enganais-vos se presumirdes que este D. João de Almeida fosse homem provido de avantajada estatura, por tal motivo necessitando de dois túmulos para se alojar.
Melhor explicado para que não restem confusões, o D. João de Almeida que mora no lado direito da nave foi o 2º conde de Abrantes falecido em 1512 e este D. João de Almeida que repousa do lado esquerdo do templo, outro alcaide-mor de Abrantes que teria ido fazer tijolo em 1592... Oitenta anos após o anterior.
Mais clássicos e menos trabalhados que os anteriores, estes mausoléus dos finais do século XVI são encimados pelos brasões de D. António de Almeida e de D. João de Almeida.
Alguns túmulos em campa rasa distribuídos tanto pela nave central quer no exterior do templo albergam outros tantos elementos da família, concluindo-se que desde a reedificação após terramoto, Santa Maria do Castelo passou a distinguir-se como panteão dos Almeidas.
O conjunto estatuário de elevado valor é composto por uma cabeça de Cristo, estatuetas da Santa Maria do Castelo, Virgem do Leite, estátuas romanas drapejadas e decapitadas em mármore... 
...uma imagem da Santíssima Trindade e outras renascentistas.
Questionais vós das razões para quão necrófaga viagem a tão remotos tempos...
Tão somente porque num destes fins-de-semana de Abril de 2013 cá o Cidadão foi visitado por camaradas d’armas que vencendo extremoso repasto em Rio de Moinhos, cogitaram quebrar o lânguido abraço da digestiva serpente enveredando por breve visita turística a quão altaneira Abrantes.
Coordenadas traçadas, este conviva propôs uma ida ao Castelo de Abrantes onde se alargariam os horizontes culturais, com paragem obrigatória no Alcaide... que em tempos d'antanho era a tasquinha do Senhor Adelino e da Dona Luzia onde os militares da Guarnição de Artilharia de Montanha iam emborcar uns petiscos... estando o depósito da água enviada pela Fábrica da Água em Vale de Rãs, instalado imediatamente acima, na plataforma entre o primeiro e o segundo pano das muralhas...
...sendo um local aprazível à ingestão de cafeína, cuja esplanada, qual ninho de águias sobranceiro ao Norte da cidade nos permite vislumbrar uns quantos montes e vales por’li além, delimitados pela Serra de Aire a Oeste... a cordilheira de Vilelas-Medrôa-Coleias que esconde a albufeira do Castelo de Bode... as serras da Melriça, Alvelos, Amêndoa, Moradal e... ainda mais a Este, o parque eólico na cordilheira dos Bandos, tropeçando a vista pelos brancos casarios do Sardoal e dos Valhascos e nos moinhos de Entrevinhas... 
Sem vos terdes apercebido...  
...também vós, ciberleitores, ficastes deslumbrados... quiçá integrados em quão pertinente visita turística...
-Aqui, das três, uma; ou desligais o computador, ou mudais para outra xafarica, ou continuais nesta treta para vos inteirardes como a crónica findará...
Bom... Se quiserdes... podereis clikar duas vezes sobre as fotos... 
...mas... deixai-vos de admirar as paisagens... caso certamente jamais daqui saireis...
Se bem dito, melhor feito.
Cimbalinos degustados, foi-se encaminhando a tropa um pouco mais desempertigada...
...para a rampa de acesso à fortaleza tubuca...
...onde pelo caminho este improvisado cicerone lhes ia descrevendo que no adro do castelo encontrariam a tal casa dos alcaides de Abrantes... 
...e uma igreja bastante antiga transformada em museu com pargas de antevisões...
...ibéricas onde apreciariam uns quantos túmulos dos referidos Condes de Abrantes, ostentando rendilhados mui bem trabalhados na pedra, fazendo lembrar o gótico do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha... ou a Janela do Capítulo do Convento de Cristo, em Tomar, pese essa ser em estilo Manuelino e como bónus os veraneantes poderiam admirar uns quantos azulejos de arte Mourisca com decorações labirínticas de corda-sêca... 
...revestindo as laterais e frontal da capela-mor e a originalidade do retábulo que se encontra à cabeceira do templo cristão...
Enfim, um incansável desfilar de história palavreada em formato de ficheiro comprimido, fazendo destas explicações prévias, razão para que o pessoal acelerasse o passo na direcção da igreja-museu
As coordenadas geográficas são: 08º 11’ 4327’’ W,  39º 27’ 5158’’ N.
Vencidos quatro degraus de elevada dimensão seguidos dum arco quebrado, transpusemos as portadas de vidro baço que resguardam o interior do templo, afinando a retina à escuridão para assim nos embrenharmos no templo sem tropeçarmos entre nós...
...nem na menina de sorriso afável que parecia aguardar-nos...
O tintol do repasto fora um...
da adega de Borba, claro!...
Entre pontas de setas e lanças, expositores horizontais envidraçados mostravam uns quantos achados arqueológicos, mas como cá  o Cidadão tinha enfatizado aos turistas de ocasião ora feitos salteadores da arca perdida, não íamos aos míscaros mas sim, aos mausoléus!...
O Cidadão inté corou!
O arco gótico que separava triunfalmente a nave relativamente à capela-mor, escondia algo de inesperado!
Fez-se um silêncio sepulcral...
Todo o mundo ficara deslumdido com o que via... consistindo na fusão dum estads de espírito entre o deslumbramento e a desilusão.
Ferros cruzados, escadotes e uns tantos andaimes ocultavam as preciosidades que buscávamos!
O púlpito estava coberto com uma faixa em plástico e do retábulo pouco se enxergava com tanto ferro entrecruzado!
Junto à base dos sarcófagos poderíamos encontrar vários sacos de plástico, caldeiros de 20 litros e garrafinhas de água!!!
Tábuas e baldes em plástico preto com resíduos de gesso, argamassas e barro anárquicamente espalhados em redor dos túmulos e pincéis espreitavam por detrás da amálgama e acima dos dois mausoléus, os  frescos não davam sinal de vida...
O pessoal ficou desapontado e estarrecido com o que vira!
–Aldrabão!
Observou um dos turistas por detrás do ombro deste comparsa...
Todos arredámos cabisbaixos, com a realidade bastante aquém das expectativas...
Esperemos que a Dona Cecília Gíménes de Bórgia, não dê conta destes trabalhos meio estagnados no tempo...
Valha-nos Santa Catarina!
Este post teve a colaboração cá da Companheira e a preciosa contribuição de Diogo Oleiro, falecido a 25 de Dezembro de 1962.